Os parágrafos de desenvolvimento da redação do ENEM.



Tarefa destinada à oficina  "Em órbita",  apresentá-la no dia 29/06/2018, sexta-feira

Os parágrafos de desenvolvimento  modelo "Roteiro". 


O que você já sabe sobre os parágrafos de desenvolvimento da redação do ENEM? Vamos relembrar algumas coisinhas? Bora lá.


  • Em virtude do número de linhas disponível para a escrita na prova do ENEM, vamos acordar que escreveremos parágrafos de mais ou menos 5 a 8 linhas. 
  • A segunda parte da dissertação é o desenvolvimento. É nele que estarão os pontos de vista, ou seja, os argumentos com os quais você demonstrará que a sua tese é coerente. Para isso, é necessário que a argumentação seja consistente e convincente e que o raciocínio seja desenvolvido por uma sequência lógica entre as ideias, de forma a haver coesão. 
  • A introdução modelo roteiro, a mais fácil - ao meu ver, estabelece uma organização textual que evita a prolixidade do texto, pois ela direciona a tua escrita. Existem duas possibilidades de desenvolvimento do modelo roteiro: por explicação ou por causa e consequência. 

  • Desenvolvimento por explicação: o desenvolvimento por explicação provém de um simples questionamento direcionado à tese escolhida: Por quê? Cada parágrafo é, assim, o desenvolvimento de uma explicação para o problema exposto na tese.                                        Exemplo:                                                                                                                                           Tema: A ascensão profissional da mulher.                                                                                     Tese:  A mulher, embora mais presente no mundo profissional, ainda ocupa cargos de alto escalão de forma discreta.                                                                                                                Faça a pergunta: Por quê?                                                                                                              Resposta 1(argumento 1 - parágrafo 1 de desenvolvimento): A mulher ainda se encontra em uma posição de desvantagem, devido, em parte, à sua tardia emancipação social.                      Resposta 2(argumento 2- parágrafo 2 de desenvolvimento): Resquícios de uma cultura machista também dificultam a ocupação de altos cargos por parte das mulheres.                         Parágrafos desenvolvidos:                                                                                                               Resposta 1(argumento 1 - parágrafo 1 de desenvolvimento):                                                         Durante grande parte do século XX, a mulher ocupou posições subalternas. Suas atividades, na maioria das vezes, restringiam-se a afazeres domésticos. Esse quadro mudou, de forma tímida, a partir do período entreguerras, quando passou a ocupar postos de trabalho de homens que se encontravam em campos de batalha.                                                                      Resposta 2(argumento 2- parágrafo 2 de desenvolvimento):                                                                 Esse cenário fortaleceu movimentos feministas, que passaram a combater o machismo. Este, infelizmente, ainda persiste na sociedade, com afirmações preconceituosas que rotulam as mulheres como incapazes de gerir negócios e até de conduzir automóveis.        
                                                                                                                                                                             
  • Desenvolvimento por causa e consequência: explora as causas e os efeitos da situação-problema exposta na tese. Há várias maneiras de se organizarem os parágrafos: alguns trabalham causas em um parágrafo e, em outro, as consequências; outros exploram em cada parágrafo uma causa e o respectivo efeito. Não há uma regra única para essa organização, estando ela a cargo do redator responsável por elaborar o projeto pessoal de texto. Exemplo: 
          Tema: As dificuldades dos pais no relacionamento com os filhos. 
          Tese: O diálogo entre pais e filhos parece estar em crise atualmente. 

          Desenvolvimento: problema 1 - causa e consequência: 

         Algumas famílias se privam de conversar com os filhos, principalmente sobre assuntos delicados, como sexualidade e drogas (causa). Isso faz com que as crianças se sintam isoladas, perdendo a confiança em seus pais (consequência). 

          Desenvolvimento: problema 2 - causa e consequência: 

         Além disso, a família moderna dispõe de pouco tempo livre (causa), devido às diversas obrigações, principalmente as do trabalho, dificultando, assim, o saudável diálogo com os filhos (consequência)



Vamos alinhar nossa escrita? Veja uma maneira simples e eficaz de argumentar:

Parágrafo 1 de desenvolvimento: 
1º período do parágrafo = Reformule uma frase que retome ao problema 1.

2º período do parágrafo = Faça uma citação ou alusão histórica que estabeleça relação com o problema 1, mas não coloque a sua opinião, apenas cite. 

3º período do parágrafo = Mostre de que forma a citação ou alusão, e o problema 1 têm relação. Ligue as ideias.


Parágrafo 2 de desenvolvimento:

1º período do parágrafo de desenvolvimento 2=  Reformule uma frase que retome ao problema 2.

2º período do parágrafo de desenvolvimento 2= Faça uma citação ou alusão histórica que estabeleça relação com o problema 2, mas não coloque a sua opinião, apenas cite.

3º período do parágrafo de desenvolvimento 2= Mostre de que forma a citação ou a alusão histórico,  e o problema 2 têm relação. Ligue as ideias.

4º período do parágrafo de desenvolvimento 2= Este período pode ser opcional, mas seria interessante que você  reforçasse a ideia de que esses problemas impedem que a situação melhore e que medidas precisam ser feitas.

Obs. Você pode inverter a ordem das frases, ou seja, você pode fazer a citação/alusão no 1º período e depois retomar o problema no 2º período, sem problemas. 

Viu como é simples?

Agora vamos observar os conectores usados para ligar os períodos, as ideias?



Palavras para citação: 

Conforme Aristóteles, [...]
De acordo com Durkheim, [...]
Segundo Albert Einstein, 
Como disserta Gilberto Freyre em “Casa-Grande Senzala” [...]
O sociólogo Zygmunt Bauman defende, [...]
A tese marxista disserta acerca da [...]

Palavras e expressões para ligar a citação a sua tese:  

De maneira análogaé possível perceber que, no Brasil, a perseguição religiosa rompe essa harmonia; [...]
Sob tal ótica, é indubitável que inúmeras ojerizas religiosas, presentes no Brasil hodierno possuem ligação direta com o passado, [...]
Ao seguir essa linha de pensamentoobserva-se que a preparação do preconceito religioso se encaixa na teoria do sociólogo, [...]
Assim, [...]
À vista de tal preceito, [...]
À vista disso, é interessante ressaltar que, [...]
Sob essa conjectura, [...]
Dentro dessa lógica, nota-se que [...]



Veja alguns exemplos de parágrafos de desenvolvimento de redações nota 1000  com algumas técnicas. 


Exemplo 1:
É indubitável que a questão constitucional e sua aplicação estejam entre as causas do problema. Conforme Aristóteles, a poética deve ser utilizada de modo que, por meio da justiça, o equilíbrio seja alcançado na sociedade. De maneira análoga, é possível perceber que, no Brasil, a perseguição religiosa rompe essa harmonia; haja vista que, embora esteja previsto na Constituição o princípio da isonomia, no qual todos devem ser tratados igualmente, muitos cidadãos se utilizam da inferioridade religiosa para externar ofensas e excluir socialmente pessoas de religiões diferentes.
         A religião afro-brasileira é a principal vítima de discriminação, destacando-se o preconceito religioso como o principal impulsionador do problema. De acordo com Durkheim, o fato social é a maneira coletiva de agir e de pensar. Ao seguir essa linha de pensamento, observa-se que a preparação do preconceito religioso se encaixa na teoria do sociólogo, uma vez que se uma criança vive em uma família com esse comportamento, tende a adotá-lo também por conta da vivência em grupo. Assim, a continuação do  pensamento da inferioridade religiosa, transmitido de geração a geração, funciona como base forte dessa forma de preconceito, perpetuando o problema no Brasil. 

            Exemplo 2:
Mormente, ao avaliar a intolerância religiosa por um prisma estritamente histórico, nota-se que fenômenos decorrentes da formação nacional ainda perpetuam na atualidade. Segundo Albert Einstein, cientista contemporâneo, é mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito enraizado. Sob tal ótica, é indubitável que inúmeras ojerizas religiosas, presentes no Brasil hodierno possuem ligação direta com o passado, haja vista os dogmas católicos amplamente difundidos no Brasil colônia do século XVI. Assim, criou-se ao longo da historiografia, mitos e concepções deturpadas de religiões contrárias ao catolicismo, religião oficial da época, instaurou-se, por conseguinte, o medo e as intolerâncias ao diferente. Desse modo, com intuito de atenuar atos contrários a prática da religiosidade individual, cabe ao governo, na figura do Ministério da Educação, a implementação na grade curricular a disciplina de teorias religiosas, mitigando defeito histórico.
Além disso, cabe ressaltar que a intolerância às crenças burla preceitos constitucionais. Nessa perspectiva, a Constituição Brasileira promulgada em 1988, após duas décadas da Ditadura Militar, transformou a visão dos cidadãos perante seus direitos e deveres. Contudo, quase 20 anos depois de sua divulgação, a liberdade de diversos indivíduos continua impraticável. À vista de tal preceito, a intolerância religiosa configura-se uma chaga social que demanda imediata resolução, pois fere a livre expressão individual. Dessa maneira, cabe ao Estado, como gestor dos interesses coletivos, a implementação de delegacias especializadas de combate ao sentimento desrespeitoso e, até mesmo violento, às crenças religiosas.

Exemplo 3:
Nesse contexto, é importante salientar que, segundo Sócrates, os erros são consequência da ignorância humana, Logo, é válido analisar que o desconhecimento acerca de crenças diferentes influi decisivamente em comportamentos inadequados contra pessoas que seguem linhas de pensamento opostas. À vista disso, é interessante ressaltar que, em algumas religiões, o contato com perspectivas de outras crenças não é permitido. Ainda assim, conhecer a lei é fundamental para compreender o direito à liberdade de dogmas e, portante, para respeitar as visões díspares.
Além disso, é cabível enfatizar que, de acordo com Paulo Freire, um seu livro "Pedagogia do Oprimido", é necessário buscar uma "cultura de paz". De maneira análoga, muitos religiosos, a fim de evitar conflitos, hesitam em denunciar casos de intolerância, sobretudo quando envolvem violência. Entretanto, omitircrimes, ao contrário do que se pensa, significa colaborar com a insistência da discriminação, o que funciona como um forte empecilho para resolução dessa problemática.

Exemplo 4:
Não obstante, apesar de a formação brasileira ser oriunda da associação de díspares crenças, o que é fruto da colonização, atitudes preconceituosas acarretam a incrédula continuidade de constantes ataques a religiões, principalmente de matriz africana. Diante disso, a união entre uma pátria cujo obsoleto ideário ainda prega a supremacia do cristianismo ortodoxo e um sistema educacional em que o estudo acerca das disparidades religiosas é escasso corrobora a cristalização do ilegítimo desrespeito à religiosidade no país.
Sob essa conjectura, a tese marxista disserta acerca da inescrupulosa atuação do Estado, que assiste apenas a classe dominante. Dessa forma, alienados pelo capitalismo selvagem e pelos subvertidos valores líquidos da atualidade, os governantes negligenciam a necessidade fecunda de mudança dessa distópica realidade envolta na intolerância religiosa no país. Assim, as nefastas políticas públicas que visem a coibir o vilipêndio à crença – ou descrença, no caso do ateísmo – alheia, como o estímulo às denúncias, por exemplo, fomentam a permanência dessas incoerentes práticas no Brasil. Porém, embora caótica, essa situação é mutável.

Exemplo 5:
Em primeiro plano, é necessário que a sociedade não seja uma reprodução da casa colonial, como disserta Gilberto Freyre em “Casa-Grande Senzala”. O autor ensina que a realidade do Brasil até o século XIX estava compactada no interior da casa-grande, cuja religião era católica, e as demais crenças – sobretudo africanas – eram marginalizadas e se mantiveram vivas porque os negros lhe deram aparência cristã, conhecida hoje por sincretismo religioso. No entanto, não é razoável que ainda haja uma religião que subjugue as outras, o que deve, pois, ser repudiado em um estado laico, a fim de que se combata a intolerância de crença.
De outra parte, o sociólogo Zygmunt Bauman defende, na obra “Modernidade Líquida”, que o individualismo é uma das principais características – e o maior conflito – da pós-modernidade, e, consequentemente, parcela da população tende a ser incapaz de tolerar diferenças. Esse problema assume contornos específicos no Brasil, onde, apesar do multiculturalismo, há quem exija do outro a mesma postura religiosa e seja intolerante àqueles que dela divergem. Nesse sentido, um caminho possível para combater a rejeição à diversidade de crença é descontruir o principal problema da pós-modernidade, segundo Zygmunt Bauman: o individualismo.

            Exemplo 6:

A princípio, é possível perceber que essa circunstância deve-se a questões políticas-estruturais. Isso se deve ao fato de que, a partir da impunidade em relação a atos que manifestem discriminação religiosa, o seu combate é minimizado e subaproveitado, já que não há interferência para mudar tal situação. Tal conjuntura é ainda intensificada pela insuficiente laicidade do Estado, uma vez que interfere em decisões políticas e sociais, como aprovação de leis e exclusão social. Prova disso, é, infelizmente, a existência de uma “bancada evangélica” no poder público brasileiro. Dessa forma, atitudes agressivas e segregacionistas devido ao preconceito religioso continuam a acontecer, pondo em xeque o direito de liberdade religiosa, o que evidencia falhas nos elementos contra a intolerância religiosa brasileira.
Outrossim, vale ressaltar que essa situação é corroborada por fatores socioculturais. Durante a formação do Estado brasileiro, a escravidão se fez presente em parte significativa do processo; e com ela vieram as discriminações e intolerâncias culturais, derivadas de ideologias como superioridade do homem branco e darwinismo social. Lamentavelmente, tal perspectiva é vista até hoje no território brasileiro. Bom exemplo disso são os índices que indicam que os indivíduos seguidores e pertencentes das religiões afro-brasileiras são os mais afetados. Dentro dessa lógica, nota-se que a dificuldade de prevenção e combate ao desprezo e preconceito religioso mostra-se fruto de heranças coloniais discriminatórias, as quais negligenciam tanto o direito à vida quanto o direito de liberdade de expressão e religião.

Vamos exercitar?

Escreva na folha dissertativa argumentativa, os parágrafos de introdução e desenvolvimento para o seguinte tema:  Geração ‘Z’: o descrédito para o futuro ou o avanço sem limites?

Acesse a proposta inteira para a escrita: 
https://aacf936f191c6837.cdn.gocache.net/projetoredacao/temas/2015_07_08_tema_da_semana_12_geracao_z.pdf
Acesse também a postagem sobre o parágrafo de introdução para lembrar- de como fazê-lo: https://professoramiriammalaghini.blogspot.com/2018/06/o-paragrafo-de-introducao-modelo-enem.html

Entregar a redação no dia 29/06/2018.


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